Colóquio - Instituto de História Contemporânea
RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES
ROBERT ROWLAND
O poder, o político e a política
Muitas das discussões acerca da política e do poder nas sociedades contemporâneas partem, mesmo para contestá-la, de uma concepção ‘liberal’ da política enquanto esfera diferenciada e dotada de uma autonomia pelo menos relativa. Proponho-me aqui abordar o problema numa perspectiva de longa duração, relativizando o modelo ‘liberal’ e reconsiderando a questão da política e do poder nas sociedades contemporâneas a partir de um quadro comparativo mais amplo.
TOMÁS VALLERA
A polícia como engenharia social da vida: a Casa Pia de Lisboa e a escolarização do órfão desvalido (1780-1834)
Ao fazer passar a "polícia" pelo crivo do problema educacional, procura-se desviá-la dos temas tradicionais da segurança pública ou da formação do aparelho estatal moderno, recuperando uma história dos procedimentos relacionados com a construção de modos de vida conformes no âmbito de grupos populacionais de excepção. Assim, a invenção da Casa Pia de Lisboa (1780-1834) situa-se a jusante da institucionalização do conceito de polícia e a montante de todo o processo de escolarização moderno.
PEDRO SILVEIRA
A arte de administrar a Justiça (1822-1841): Ministros, Juízes e Cidadãos
A comunicação explora os impactos territoriais da Nova e da Novíssima Reforma Judiciária, recorrendo a cartografia digital e à interpretação da divisão territorial da administração da Justiça, enquanto premissa fundamental de aplicação do Direito a uma comunidade. São ainda tidos em conta o perfil dos Juízes que intermedeiam essa aplicação e a capacidade dos Cidadãos se adaptarem a um novo paradigma judicial.
JULIA KOROBCHENKO
Os funcionários da Secretaria do Ministério dos Negócios Estrangeiros durante a Monarquia Constitucional
A reforma administrativa do século XIX, imbuída no espírito liberal, levou ao processo estruturante da orgânica do Ministério dos Negócios Estrangeiros. A nossa investigação, através do cruzamento de dados entre a produção legislativa e a vivência institucional, assim como a análise social, visa o estudo da composição do quadro de funcionários da Secretaria do MNE, sua hierarquia, classificação, funções e distribuição de tarefas.
RITA GARNEL
Agentes da Governação: os médicos de partido e os delegados de saúde (1890 – 1940)
Ao longo do século XIX, a institucionalização da profissão médica, enquanto profissão liberal, foi um processo difícil e contraditório. Ciosos da sua independência científica e da liberdade de exercício, muitos médicos desejavam igualmente a segurança de uma remuneração certa. O Estado, ciente de que também era função sua assegurar a saúde da população, foi incorporando na máquina administrativa alguns dos detentores deste saber especializado. A comunicação dará conta deste processo em que se cruzam interesses divergentes.
ÂNGELA MIRANDA CARDOSO
O lobo veste a pele do cordeiro: o historiador entre o uso da razão e o governo da nação
Reavivada nas últimas décadas quer a vertente didáctica do trabalho do historiador quer o seu activo envolvimento no debate público “da nação”, interessa perguntar, em termos epistemológicos, até que ponto o recurso à autoridade de que está investido o discurso historiográfico ultrapassa o seu domínio próprio, alicerçando, a partir de uma concepção judicativa da história, programas de inscrição fundamentalmente interventiva e ideológica.
NUNO MEDEIROS
Governo e contra-governo nas ideias: a edição de livros como formulação do mundo
Esta comunicação incide sobre o editor e o papel de mediação que este exerce na sua actividade culturalmente prescritiva. Procura-se explorar o editor como personagem social com práticas de constituição de públicos, mercados, hierarquias e modos de extracção de sentido do livro. Por outro lado, a comunicação aborda um conjunto de casos que historicizem as possibilidades e contradições que esta personagem social encontra em contextos particulares e personificações igualmente específicas, recorrendo a exemplos da edição portuguesa do século XX.
JÚLIA LEITÃO DE BARROS
NUNO POUSINHO
O poder político e social de um cacique na Monarquia Constitucional. O caso de Manuel Vaz Preto Geraldes
Manuel Vaz Preto Geraldes (1828-1902) é muitas vezes apontado como o verdadeiro cacique da política oitocentista. O seu poderio político e eleitoral garantia-lhe um grande poderio social e político que era usado para colocar amigos e familiares na administração pública e controlar a administração periférica do Estado no seu distrito de origem, Castelo Branco.
JORGE RAMOS DO Ó
INÊS GALVÃO
Técnicos, plantadores e governantes num mesmo palco: Observações sobre o problema do trabalho indígena e o lugar do poder económico no campo político colonial do Estado Novo (Moçambique, c. 1950-1960).
As assembleias técnicas organizadas pela Associação dos Produtores de Sisal de Moçambique nas vésperas da revogação do indigenato são tomadas como observatório da actuação desta colectividade na mediação entre interesses económicos e políticos, colocando questões sobre o campo de poder em Moçambique, no contexto de transposição do modelo corporativista do Estado Novo para as colónias africanas.
MARCO CARDÃO
O poder das misses. A imaginação da tropicalidade nos concursos de beleza
Embora sejam considerados espectáculos anódinos e politicamente inconsequentes, os concursos de beleza articularam as ansiedades e fantasias do nacionalismo português no início da década de 1970. Além de originarem produções discursivas sobre a sexualidade, os concursos foram também instrumentos singulares de poder, repetindo os temas principais da ideologia colonial nas últimas décadas do regime autoritário.
VERA BORGES
NUNO DOMINGOS
Quem governa o corpo do pugilista?
A partir da análise da intervenção do Estado no mundo do boxe nas décadas de quarenta e cinquenta em Portugal, nomeadamente na cidade de Lisboa, procurar-se-á interpretar um processo de inscrição social dos discursos de poder estatais e das políticas das suas instituições no quadro do regime do Estado Novo.
CÁTIA TUNA
Fernanda Maria: uma fadista entre o serviço à mesa e a gerência de uma casa de fado.
O estudo da biografia de Fernanda Maria acompanha uma carreira artística como percurso de construção de um poder feminino e das estratégias da sua gestão e controlo. privilegia a casa de fado «Lisboa à noite» que esta fadista abriu, geriu e onde cantou, como plataforma de relações laborais e familiares, de concorrência ou subordinação, em que se cruzam dinâmicas de poder de naturezas diversas.
MARIA ANTÓNIA PIRES DE ALMEIDA
Zé Luís, o General. Retrato de um líder da Reforma Agrária
José Luís Correia da Silva foi o líder carismático das ocupações em Avis e arredores no período da Reforma Agrária. Formou e dirigiu a UCP 1º de Maio que abrangeu mais de 10.500ha e chegou a ter na sua lista de trabalhadores fixos 320 pessoas. Foi também eleito presidente da câmara em 1976. Nesta comunicação analisam-se os fatores que contribuíram para o seu carisma local a partir de um percurso de vida singular.
FÁTIMA SÁ E MELO FERREIRA
A arte de governar
Novas perspectivas sobre o poder no Portugal Contemporâneo